Venho recomendar mais um livro: "A Criança Terceirizada: os descaminhos das relações familiares no mundo contemporâneo". José Martins Filho, Editora Papirus, 108 páginas.
Para quem? Para toda a Humanidade. Pois o futuro da nossa espécie interessa - e é responsabilidade - de todos.
Gostei tanto do livro que fui saber quem é o Professor José Martins Filho. E, numa grata surpresa, a todos que o conhecem pessoalmente e a quem perguntei na minha ignorância quem era, vi um sorriso terno e uma admiração muito bonita. Já gosto muito do senhor, professor.
Ele conceituou uma angústia que tenho como filha, mulher, mãe, pediatra, professora de Pediatria e como observadora da nossa sociedade, tão preocupantemente desequilibrada. Considero-me de uma geração pós-feminista, isto é: não é mais "feio" gostar de criança, dizer que gosta de cozinhar, essas "coisas menores". Felizmente pude, ao menos quando nasceu minha segunda filha, optar por diminuir minha carga de trabalho e ficar um pouco mais com eles (que insanidade, não?) Com um parceiro de ouro, com uma profissão que me permitiu trabalhar meio período e não precisando trabalhar para comer, pude ser um pouco mais mãe que a média. Mas sempre angustiada: culpa quando não estava no hospital, culpa quando não estava estudando ou me titulando, culpa quando não estava com eles. E sempre exausta!!! Irritada, cansada, sem a paciência devida. Porque não adianta "estar" com eles, voce precisa "estar bem" com eles, tranquila, satisfeita, para realmente exercer direito esse papel.
Não defendo a volta da mulher para casa (eu não aguentaria...) mesmo porque acho que uma mãe ativa fora de casa é uma mãe mais preparada e mais feliz. Mas vamos considerar maternidade - ou paternidade, por que não? - também uma profissão!!! Nos escritórios, ambulatórios, não podemos ficar 15 minutos, não é? Então porque podemos ficar 15 minutos por dia com as pessoas mais importantes do mundo para nós e que precisam de nós para crescerem, desenvolverem-se e mesmo sobreviverem nesse mundo cada vez mais difícil?
Por que nos transformamos, com toda a inteligência que possuimos, os piores pais entre os mamíferos? Por que negamos a chance de nossos filhos mamarem do nosso leite? Estamos nos arriscando a criar uma geração de "delinquentes" assim como aconteceu com os elefantes africanos, que se criaram órfãos de seus pais. Mesmo entre os animais irracionais, precisa de exemplo adulto e carinhoso para termos adultos saudáveis. Que princípios, valores e ideias queremos passar para os nossos filhos, os das babás ou das professoras deles? Ou será que os dos produtores de desenhos animados ou de propagandas infantis?
Mas isso tudo é culpa da mulher? De jeito nenhum. Nem sei se, em todas as famílias, o ideal seria a mãe mais tempo com os filhos, há pais que cumprem muito melhor esse papel. Ainda estamos nos ajustando dentro da sociedade. É um problema de governo (possibilitando empregos de meio período), de sociedade (que precisa diminuir os parâmetros de "sucesso" para bases mais humanistas e realistas), de famílias (que precisam dar o devido valor e suporte ao pai ou à mãe que se propõe a assumir mais de perto a tarefa mais importante que existe), enfim, de todos nós. De verdade. De coração aberto e puro, sem cinismo ou hipocrisia.
Problema urgente. Como diz no livro "criança cresce mas não esquece". Talvez já tenhamos sido "crianças terceirizadas" e essa sociedade desgovernada e infeliz já seja reflexo disso.
Um beijo carinhoso e boa leitura,
Isabela
sábado, 11 de dezembro de 2010
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