Objetivo do Blog

Este Blog se propõe inicialmente a disponibilizar o material educativo do Projeto Floripa Saudável 2040, um projeto piloto de educação em saúde desenvolvido na cidade Fpolis em parceria da UFSC e Secretarias Municipais de Saúde e Educação, dentro da filosofia do Programa de Educação em Saúde. Este projeto pretende desenvolver ações em educação em saúde, pela unidade de saúde e creches ou núcleos de ensino infantil, abordando nutrição, atividade física, saúde bucal, saúde mental, monitoração em saúde, e proteção de agentes externos (agravos externos, radiação solar, ...).
Mas desde o começo a teoria é democratizar ao máximo a educação em saúde, e difundir ações deste tipo pelo Brasil, ou fora, se for interessante. Este projeto é inspirado no projeto "Health Ahead Heart Smart", do Estudo Bogalusa, adaptado segundo perfil epidemiológico brasileiro e segundo metodologia de ensino mais adequada aos nossos pequenos.
Todo o material é de domínio público, e tanto a parte escrita quanto as ilustrações podem ser utilizadas sem necessidade de pedido de autorização prévio. Assim como todas as sugestões são extremamente bem-vindas, que podem ser feitas na forma de comentários ou perguntas, para os quais há um espaço especialmente reservado no site.
Um grande abraço e seja muito bem vindo,
Isabela de Carlos Back Giuliano

sábado, 11 de dezembro de 2010

A criança terceirizada (comentário do livro)

Queridos amigos,
Venho recomendar mais um livro: "A Criança Terceirizada: os descaminhos das relações familiares no mundo contemporâneo". José Martins Filho, Editora Papirus, 108 páginas.
Para quem? Para toda a Humanidade. Pois o futuro da nossa espécie interessa - e é responsabilidade - de todos.
Gostei tanto do livro que fui saber quem é o Professor José Martins Filho. E, numa grata surpresa, a todos que o conhecem pessoalmente e a quem perguntei na minha ignorância quem era, vi um sorriso terno e uma admiração muito bonita. Já gosto muito do senhor, professor.
Ele conceituou uma angústia que tenho como filha, mulher, mãe, pediatra, professora de Pediatria e como observadora da nossa sociedade, tão preocupantemente desequilibrada. Considero-me de uma geração pós-feminista, isto é: não é mais "feio" gostar de criança, dizer que gosta de cozinhar, essas "coisas menores". Felizmente pude, ao menos quando nasceu minha segunda filha, optar por diminuir minha carga de trabalho e ficar um pouco mais com eles (que insanidade, não?) Com um parceiro de ouro, com uma profissão que me permitiu trabalhar meio período e não precisando trabalhar para comer, pude ser um pouco mais mãe que a média. Mas sempre angustiada: culpa quando não estava no hospital, culpa quando não estava estudando ou me titulando, culpa quando não estava com eles. E sempre exausta!!! Irritada, cansada, sem a paciência devida. Porque não adianta "estar" com eles, voce precisa "estar bem" com eles, tranquila, satisfeita, para realmente exercer direito esse papel.
Não defendo a volta da mulher para casa (eu não aguentaria...) mesmo porque acho que uma mãe ativa fora de casa é uma mãe mais preparada e mais feliz. Mas vamos considerar maternidade - ou paternidade, por que não? - também uma profissão!!! Nos escritórios, ambulatórios, não podemos ficar 15 minutos, não é? Então porque podemos ficar 15 minutos por dia com as pessoas mais importantes do mundo para nós e que precisam de nós para crescerem, desenvolverem-se e mesmo sobreviverem nesse mundo cada vez mais difícil?
Por que nos transformamos, com toda a inteligência que possuimos, os piores pais entre os mamíferos? Por que negamos a chance de nossos filhos mamarem do nosso leite? Estamos nos arriscando a criar uma geração de "delinquentes" assim como aconteceu com os elefantes africanos, que se criaram órfãos de seus pais. Mesmo entre os animais irracionais, precisa de exemplo adulto e carinhoso para termos adultos saudáveis. Que princípios, valores e ideias queremos passar para os nossos filhos, os das babás ou das professoras deles? Ou será que os dos produtores de desenhos animados ou de propagandas infantis?
Mas isso tudo é culpa da mulher? De jeito nenhum. Nem sei se, em todas as famílias, o ideal seria a mãe mais tempo com os filhos, há pais que cumprem muito melhor esse papel. Ainda estamos nos ajustando dentro da sociedade. É um problema de governo (possibilitando empregos de meio período), de sociedade (que precisa diminuir os parâmetros de "sucesso" para bases mais humanistas e realistas), de famílias (que precisam dar o devido valor e suporte ao pai ou à mãe que se propõe a assumir mais de perto a tarefa mais importante que existe), enfim, de todos nós. De verdade. De coração aberto e puro, sem cinismo ou hipocrisia.
Problema urgente. Como diz no livro "criança cresce mas não esquece". Talvez já tenhamos sido "crianças terceirizadas" e essa sociedade desgovernada e infeliz já seja reflexo disso.
Um beijo carinhoso e boa leitura,
Isabela